Plenty of Fish

Feiura que vende

 

Faz um tempo que não vejo a TV aberta. Aliás, TV alguma, já que tenho feito minha própria programação no computador ou no DVD. Mas na última semana não escapei. Após o tradicional almoço de família acabei dando uma “zapeada” nos programas dominicais. E o que me chamou a atenção dessa vez não foi nem o conteúdo, sempre questionável, mas sim a feiúra desses programas – cores aberrantes, cortes de câmera grotescos, shows em playback, brilho e muito plástico na tela. Mas como líderes de audiência que são, eles continuam cheios de anunciantes, combustível que vem garantindo a continuação dessa estética há anos.

Um curioso artigo de Mark Daoust mostra que a feiúra também faz sucesso na internet. Em “The Surprising Truth About Ugly Websites” ele descreve o fenômeno de sites como Google, Craig’s List e IMDB, que estão na lista de favoritos de muita gente – e faturando alto – apesar do visual. Mas o grande destaque dessa seleção é mesmo o site de namoros Plenty of Fish, campeão de vendas de links patrocinados – US$ 10 mil/dia. Isso mesmo, US$ 3,6 milhões/ano.

Plenty of Fish

Daoust tentou usar a psicologia para entender o que as pessoas pensam quando usam uma ferramenta “feiosa” como o Plenty of Fish:

1. É um negócio familiar que não conta com profissionais de marketing
2. O objetivo é servir os clientes, não aprender HMTL
3. A falta de profissionalismo dá a impressão de que o usuário está lidando com indivíduos ao invés de grandes corporações. As pessoas confiam em pessoas, não em websites

Mas em uma investigação mais racional Daoust acabou encontrando duas qualidades comuns a todos estes sites: usabilidade e simplicidade. Ou seja, não é a feiúra que vende, mas sim a facilidade de uso.

Agora é preciso entender a mensagem que empresa quer passar – ela é uma Ferrari ou um Fusquinha? Casas Bahia ou Bang & Olufsen? O design com certeza dirá de forma muito mais precisa do que qualquer palavra. A galera do Design by Fire mostrou que o casamento entre design e usabilidade é possível no divertido artigo “Design Eye for the Usability Guy“, publicado em 2004.

E já que o assunto é feiúra, dê uma olhadinha na pavorosa lista do Web Pages that Suck com os 10 mais feiosos de 2007. Tem peixe grande na lista, como a Microsoft. E um exemplo que só vai estimular ainda mais a rixa dentre designers e arquitetos de informação: Usability Net.

O mito da rolagem

 

Quem nunca tentou espremer o conteúdo ao máximo para que ele ficasse acima da linha de rolagem que atire a primeira pedra. E quem nunca refez uma diagramação quando descobriu que era impossível evitar o inevitável scroll? Também não devem ter sido poucas as vezes em que foi preciso justificar para o cliente o uso da malfadada rolagem.

O estudo feito pela ClickTale com 120 mil páginas da web entre novembro e dezembro de 2006 traz algumas justificativas e respostas para que seus sites não fiquem limitados a uma determinada resolução. Importante destacar que a pesquisa incide apenas sobre a rolagem vertical. Seguem alguns números, como o cliente gosta:

  • 96% das páginas da web possuem rolagem
  • 76% dos usuários que encontram páginas com rolagem fazem uso da mesma, pelo menos pelas 2 ou 3 páginas abaixo da resolução
  • 23% dos usuários costumam fazer a rolagem até o final, independente do tamanho da página

O estudo ainda faz algumas recomendações:

Não tente espremer a página para deixá-la mais compacta. O benefício para os visitantes é mínimo. Caso a página tenha scroll, a maioria irá usá-lo

Já que a rolagem é um mal necessário, invista em um layout que facilite o escaneamento das áreas mais baixas da página (essa também é uma dica de outro estudo, o Eye Track III)

MAIS SOBRE O TEMA

Unfolding the fold
Blasting the mith of the fold
The fold is an unecessary limitation

Agora é navegar e rolar (não resisti ao trocadilho)!

:)

Usuária carente

 

Por Elisa Volpato

Fiquei um tempão pensando em como seria minha estréia no blog, e conclui que teria de escrever sobre alguma coisa que entendo bem. Então resolvi começar reclamando, como usuária. Por que acho que os sites por aí deviam prestar mais atenção em mim.

Em minha breve vida de moça emancipada, já passei pela situação várias vezes: procurar um apartamento para morar. Agora até meus amigos resolvem me pedir palpite quando querem sair da casa dos pais. Se tem uma coisa que percebi é que lugar é um fator muito importante para quase todo mundo. E lá vou eu no google encontrar sites de imóveis.Então eles me perguntam: “Quer morar onde?” De cara, imagino meus amigos dando pelo menos cinco tipos de resposta diferentes:

  1. “Perto do metrô, na linha verde.”
  2. “Perto da faculdade e do trabalho.”
  3. “Tem que ser no bairro de Pinheiros”.
  4. “Ainda não sei, mas quero que seja na zona sul.”
  5. “Em um lugar barato e bacana.”

Já o modelo de pesquisa mais comum entre os sites que encontrei é filtrar por cidade, região, zona e bairro -nessa ordem. Só que esse tipo de pesquisa atende apenas dois dos meus cinco amigos. O amigo número 1 teria de procurar (em um mapa!) todos os bairros atendidos pela linha verde, ou escolher entre esses bairros aqueles cujo nome fosse mais simpático. Já o número 2 teria de traçar um ponto médio entre a faculdade e o trabalho e buscar ofertas em todos os bairros próximos desse ponto. O número 5 provavelmente viria me pedir uma sugestão de bairro barato e bacana.

Mesmo quem faz uma busca orientada por bairros nem sempre tem bairro específico em mente. E mesmo que tenha, como saber ao certo onde acaba e termina cada bairro? Qual a divisão exata entre Pinheiros e Vila Madalena? Onde começa e termina a zona sul? Isso sem falar na confusão entre o bairro de verdade –Jardim Paulistano- e o distrito (seria Jardins? Até eu me confundi agora).

No começo eu criei estratégias para lidar com as dificuldades: mapas impressos onde marcava a localização de cada oferta, consulta a sites de conteúdo para descobrir os bairros mais interessantes, busca no Google Earth para ver quais eram as ruas mais verdinhas do bairro que eu tinha escolhido. E comecei a pensar em como seria um site de busca de imóveis que realmente prestasse atenção à forma como eu -e meus amigos- fazíamos a pesquisa:

  • Pesquisa baseada em um ponto: eu tenho uma referência fixa, perto da qual gostaria de morar. Mas não sei exatamente os limites de bairro e região ali por perto. Então indico um ponto em um mapa e peço por imóveis em um raio de 5 km.
  • Pesquisa baseada em dois pontos: eu informaria o endereço da faculdade e do trabalho, e o sistema me traria os imóveis que estão na área abrangida pelos dois.
  • Resultados de pesquisa mostrados em mapa. Já montei várias vezes mapinhas mentais -e impressos- para entender onde ficava cada opção de imóvel. Bem que um site poderia fazer isso para mim!
  • Pesquisa baseada em serviços e lazer: pesquisar por apartamentos próximos do metrô ou de parques.
  • Por fim, conteúdo sobre os bairros de cada cidade. Ajudaria muito integrar o site de imóveis com um guia de entretenimento -daí os resultados da pesquisa já mostrariam a densidade de bares, de parques e de escolas em cada local. Ruas mais roxinhas = ruas mais badaladas. Ruas amarelas = grande concentração de comércio. Mais ou menos como um SimCity. Além das cores, os moradores do local poderiam fazer comentários sobre ruas e locais, do tipo: “Essa vila é muito fofa! Veja essa foto aqui”.

Alguém conhece algum site assim? Alguém quer me ajudar a fazer um? :)

A usabilidade pode influenciar no preço das ações de uma empresa?

Um estudo divulgado pelo Nielsen Norman Group em 2003 já havia mostrado como a usabilidade impacta positivamente nos resultados de um site. Com um redesign bem mais centrado no usuário, os sites das 42 empresas envolvidas no estudo registraram um aumento médio de 135% nas métricas desejadas – tráfego, conversão de vendas, performance do usuário e uso de funções específicas.

A UX Magazine divulgou no começo do mês os resultados de um estudo também focado no retorno de investimento em usabilidade. Desta vez o objetivo era saber o quão as iniciativas de uma empresa no setor seriam capazes de refletir no preço de suas ações na bolsa de valores.

Para isso a própria UX Magazine investiu US$ 50 mil em ações de 10 companhias que tinham realizado recentemente grandes trabalhos de user experience (aqui foram estabelecidos alguns critérios). O resultado deste UX Fund, como foi batizado o investimento, mostra o que aconteceu com essas ações após 1 ano:

Research In Motion (RIMM) + 207.97% $10,387.44
Apple (AAPL) + 131.81% $6,607.96
Google (GOOG) + 47% $2,248.40
Nike (NKE) + 38.65% $1,921.32
Electronic Arts (ERTS) + 10.62% $530.16
Yahoo (YHOO) + 15.61% $775.20
Target (TGT) – 2.09% ($104.16)
Netflix (NFLX) – 4.82% ($239.40)
Progressive Insurance (PGR) – 23.27% ($1,165.41)
JetBlue Airways (JBLU) – 29.36% ($1,476.00)

Na minha opinião, apesar de lucrativo (o portifólio cresceu quase 40%) o resultado do estudo ainda é pouco conclusivo, uma vez que vários fatores podem influenciar no preço das ações – a Apple, por exemplo, lançou o iPhone neste período.

Nas palavras da UX, o estudo provou que “usabilidade não é tudo”. Muitas empresas, apesar de atenderem bem os seus usuários online, estão sujeitas a realidade do negócio. Este foi o caso da companhia aérea JetBlue Airways, prejudicada por uma forte tempestade de inverno bem no Dia dos Namorados.

De qualquer forma temos aqui mais alguns argumentos (se é que é preciso) para vender a usabilidade como uma importante (mas não única) aliada na geração de resultados. Não deixem de ver o estudo completo.

Most Contagious – Branding, Tecnologia e Cultura Popular

A Most Contagious é uma publicação anual da Contagious Magazine que elege e agrupa as melhores iniciativas do ano em relação a Branding, Tecnologia e Cultura Popular. Uma das melhores curadorias do mercado publicitário, na minha opinião.

Interessante o que a presença de categorias como “projects not campaigns”, “social business” e “service design” diz sobre o caminho que as marcas estão seguindo.

É só ler um pouco sobre as campanhas selecionadas para perceber que existem alguns movimentos acontecendo simultaneamente nesse mercado:

  • Marcas querendo desenvolver mais produtos a longo prazo, e menos campanhas a curto prazo.
  • O grande diferencial dos produtos oferecidos pelas marcas sendo cada vez menos o produto físico em si, palpável, e cada vez mais o serviço que vem embutido nesse produto.
  • As “Redes Sociais” já invisíveis, obrigatórias, requisito mínimo de qualquer produto ou campanha online ou offline – e não um termo/budget/departamento à parte.
  • O Service Design ajudando fortemente na materialização dessas iniciativas, por ser uma das disciplinas que mais entende de criação de produtos digitais verdadeiramente relevantes.
  • As marcas tentando agir como transformadores da cultura popular, tentando promover conversas de bar, tentando resolver tensões culturais que existiam há anos ou tentando criar novas dessas tensões.
  • As marcas querendo ter a credibilidade natural das pessoas e as pessoas querendo ter a credibilidade formal das marcas.
  • A tecnologia como conexão inevitável de todos esses pontos.

Não dá pra olhar para todos esses movimentos e para todos os cases selecionados no Most Contagious e não ficar animado com a importância que o Design de Interação tem e continuará tendo nesse processo. Great times are coming 🙂

Link: Most Contagious 2011

Fonte: http://arquiteturadeinformacao.com/

Um olhar moderado sobre o eye-tracking – 23 lições e 1 alerta

O artigo “Scientific Web Design: 23 Actionable Lessons from Eye-Tracking Studies”, escrito por Christina Laun e publicado na primeira quinzena do mês, está fazendo sucesso no meio. Ele traz um compilado do Eye Track III, estudo realizado pelo The Poynter Institute em parceria com a Eyetools Inc. e o Estlow Center for Journalism and New Media. Em 2003 esse time de pesquisadores fez com que 46 pessoas (homens e mulheres entre 19 e 60 anos) olhassem para 10 diferentes publicações online, entre elas o The New York Times, o The Wall Street Journal e o MSNBC.